Estou só... Sozinha comigo própria, perdida na imensidão de pensamentos e sentimentos que teimam em marcar a presença no decorrer do dia.
A Vida, por vezes, prega-nos rasteiras fatais à nossa forma de estar na vida e mutila-nos o raciocínio lógico que impera na nossa essência.
Cabe a nós tirar as lições do que aprendemos e fazermos a triagem daquilo que não corresponde à realidade vivida... A triagem das palavras que ferem a alma e que não são mais do que o reflexo da revolta e do desespero, acorrentados ao enorme sentimento de Perda. A Perda do que se viveu, a Perda do que se sentiu, a Perda do futuro que não chegou a ter lugar na caminhada da vida.
Seria utópico alguém abraçar simplesmente o lado belo do Viver, do Sentir, do Desejar... e ignorar a encruzilhada de acusações, de mágoas, de falta de sinceridade, de dedos apontados... Seria fechar os olhos ao que dói, ao que fere, ao que conduziu à plena exaustão, e rezar para que nada disso voltasse a assombrar o sentimento abraçado... Mas as marcas estão lá, as feridas estão abertas e as cicatrizes permanecerão no futuro.
A Vida não é utópica... Sabe bem ouvir a música que nos toca a alma, ouvir as palavras que nos adoçam o coração, sentir o toque que nos faz estremecer, olhar no espelho e ver o sorriso no olhar... Mas depois, quando estamos sozinhos connosco próprios e olhamos para trás... vemos que não passam de mãos cheias de Nada, sentimentos bons sim mas rodeados de tantas sombras, de dúvidas, de "bluffs", de enredos, de vontades contraditórias, de sentidos e fases de vida diferentes... Não passam de mãos cheias de Nada, cheias de TUDO e inundadas pelo Nada...
A racionalidade do Presente assume o papel de liderança e abandona a emotividade do Passado, aclamando o bom-senso do Futuro...
Portanto vou desligar o botão do rádio e vou simplesmente ouvir os meus passos... Porque é naquele rádio que em duas frequências distintas toca a mesma Música, frequências bem distantes uma da outra, mas que partilham a mesma sintonia... Vou guardar aquela Música na minha memória, aquela Música que me toca a alma... Aquela Música que não quero voltar a ouvir... Vou simplesmente ouvir os meus passos e seguir em frente com os olhos no horizonte... e sorrir...